A arte não inventa nada. Apenas exibe e realça o que já está na natureza, embora nem sempre de forma explícita. Em todo o caso, os objectos naturais expõem formas e equilíbrios impossíveis de replicar e, por vezes, de explicar.
No início dos anos 80 tive um verdadeiro fascínio pelas composições em que, criando eu um veio escultórico dominante (e porventura explicativo do conjunto), os elementos naturais combinados atingiriam um poder cromático forte, inédito e com interpretação interventiva.
Nascia a NATURARTE.
Com a adesão da então Directora do Museu Municipal Santos Rocha, Isabel Pereira, realizei aí a primeira exposição individual de Naturarte, em 1986. Dois anos depois (1988) repeti a experiência, neste caso com a companhia das tapeçarias de Júlia Magalhães, consolidando em toda a mostra um ambiente de campo, reflexão sobre as tradições... quase com cheiro a terra.
Aprofundei as técnicas de conservação para atrasar a inevitável falência das fibras e compostos orgânicos mais frágeis que, admiravelmente, aguentaram anos de tracção e variabilidade das condições atmosféricas.
Faltam-me inúmeros registos dos trabalhos realizados em cerca de uma década, incluindo muitos dos que estiveram em exposições. Ficam aqui alguns exemplos.
Movimento pelágico (painel)
1986-Ovos de tubarão e de raia em armação de bambú (200cmX150cm)
Mama sume
1985-Escultura em tronco de cacto, base de bambú e sementes diversas (160cm de altura)
Ambiente litoral (painel)
1884-Algas e pedras do Cabo Mondego em armação de vime (170cmX80cm)
Paineis
1987-Sementes de eucalipto, bolotas, ouriços-do-mar, pedras roladas e pasta de madeira em armação de bambú e correntes de ferro (260mX80cm cada peça)
Carnaval tropical
1988-escultura em tronco de cacto com junco (90cm de altura)
Dependências (sipaios)
1987-Escultura de madeira com sementes e sisal (60cmX25cmX15cm)
Sobrevivências
1987-Madeira, coco e cortiça com sementes diversas (70cmX40cm)
1984-Escultura de madeira com crâneo de gaivota, em estrutura de bambú e cortiça, com ovos de polvo e esqueletos de ouriços-do-mar (40cmX15cm)
Domínio tribal
1988-Escultura em folha de palmeira e tronco de cacto, com vértebras de golfinho e sementes diversas (70cmX40cm)
Espírito do golfinho
1985-Armação com o esqueleto de golfinho, bambú, vidro, sementes e peixe embalsamado (130cmX90cmX40cm)
Sons na sanzala
1988-Armação de vime com peças em folha de palmeira, com pedras, sisal e ouriços-do-mar (180cmX160cm)
Camões de Bazaruto
1988-Escultura em tronco e folhas de eucalipto, cacto, pasta de madeira e sisal, crustáceos e sementes (160cmX120cm)
Tracções
1985-Escultura de madeira em estrutura de vime, algas, ouriços-do-mar e pedras roladas (80cmX15cm)
Painel temático
1987-História em casca de eucalipto gravada a fogo, com sementes diversas, em estrutura de bambú e correntes de ferro (200cmX170cm)
Exercício do poder
1994-Folha de palmeira e madeira de carvalho, em estrutura de bambú com sementes e peças cerâmicas (160cmX140cm)
Feitiço
1990-Palmeira, crustáceos, sisal e presas de peixe-serra (80cmX30cm)
As derivações da Naturarte pela área da escultura composta foram diversas. Infelizmente, fiquei com registos limitados desses trabalhos que antecederam o maior empenho nas experiências da cerâmica.
Por enquanto, ficam os seguintes registos de trabalhos partilhados numa exposição realizada em 1990, na Galeria A Brasileira, em Coimbra.
Composição
1990-Estrutura em palmeira, vime e sementes da Naturarte, como suporte a vitrais de Gioconda Ferreira e Francisco Figueiredo e tela de Seixas Peixoto (130cmX120cm)
Interpretação da matéria
1990-Crâneo, ossos e discos vertebrais de ovídeo, algas, vime. sementes e vitral translúcido (este de Francisco Figueiredo)
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