Em termos simples, o holismo significa que o todo tem um
valor superior à soma das partes. E o ser superior não significa
necessariamente ter mais, mas sim uma melhor relação entre as partes e,
sobretudo, a configuração das partes num corpo comum.
Na verdade, o que importa é a expressão global, a silhueta, a
personalidade apetrechada das emoções do conjunto (o holos dos gregos).
Outro aspecto crucial do holismo é a escala em que aborda um
fenómeno, um elemento particular, ou uma paisagem, podendo em cada nível de
observação seleccionar o essencial e abdicar do acessório. Ou, então, pode
agrupá-lo, dar-lhe uma forma nova que realce os perfis desejados e os volumes
do conjunto. E, neste caso, é um processo prévio que designo de holismo
conceptual porque facilita muito (pelo menos, por agora) a fundamentação
teórica.
O holismo tem um carácter extemporâneo nas múltiplas
dinâmicas espacio-temporais onde é aplicado. Esta qualidade faz com que o
holismo não seja hermético, mas sim flexível e sujeito aos acasos da observação
e dos registos de cada instante. Ou seja, sendo consensual na forma de exprimir
os elementos essenciais de um resultado, de uma imagem, de uma ideia, pode
organizar a soma e a subtracção das partes, a matriz de elementos com poder explicativo,
de tal forma que o resultado embora diverso seja sempre o mesmo.
Tudo pode ser alterado e disposto com aparente desordem de
modo a criar a harmonia principal, sendo que esta também é alterável com a
aproximação ou afastamento do campo de observação. Desse modo, os objectos, em
si próprios, deixam de ter sentido, ou passam a ser pouco importantes. Já o
jogo de um qualquer conjunto de peças imperfeitas pode ganhar expressividade e
reforçar as relações de pertença.
Seja como for, nas artes, passar da análise holística de toda e qualquer criação para a assunção do holismo enquanto princípio
conceptual de organização é algo aparentemente estranho, pois isso significa
(ante)ver a obra antes da sua realização, marcando-lhe previamente os pontos fortes
e os fracos. Aliás, se reflectirmos um pouco, facilmente percebemos que, neste
aspecto, o realismo e o hiper-realismo já o fazem de forma precisa e
matematicamente calibrada, abdicando apenas dos aspectos mais emocionais. Pelo
contrário, o expressionismo exacerba as emoções, embora crie pontos de ruptura
na realidade concreta que estão previamente assumidos. Do lado oposto, temos,
por exemplo, o surrealismo que respira o verdadeiro mundo dos sonhos e
estilhaça qualquer veleidade de geoposicionamentos; ou o cubismo que tem mais
interesse em exibir o particular, por vezes de forma tão grotesca que soterra o
conjunto sob sucessivas capas de aparências. Ambos se afastam, pois, do holismo
conceptual, sem prejuízo de exibirem valores extraordinários na análise
holística formal.
Afinal, bem vistas as coisas, o que une o holismo formal ao
holismo conceptual é a expressão do todo como um valor simbólico absoluto,
capaz de arrebatar a nossa atenção e interesse.
De seguida, apresento vários trabalhos do holismo conceptual,
começando por mostrar como no figurativo personalizado (o retrato) a
simplificação dos elementos acessórios beneficia a leitura e a componente
emotiva dos personagens, enquanto o retrato mais realista (a carvão/grafite), apesar da
densidade, apenas regista o que é óbvio.